LOST CANVAS

Recentemente foi aberta uma caixinha no Instagram do Contemporama sugerindo temas ao pessoal responsável pelos textos, e um dos temas sugeridos foi Cavaleiros do Zodíaco (CdZ). Legal, tema bacana, mas o que falar de CdZ? Tendo sido lançado há mais de 30 anos e com vários spin-offs, seu universo tem muito a contar, mas se eu puder fazer uma indicação do tipo “você não pode passar dessa vida sem ler¹” de CdZ, sou obrigado a indicar Lost Canvas, considerada por muitos fãs a melhor história do Cavaleiros do Zodíaco.


A premissa de CdZ é que num universo em que deuses existem, Atena, filha de Zeus, herdou a Terra de seu pai e, desde então, tem lutado para proteger a humanidade. Diferente de outros deuses, ela escolheu viver como os humanos e entre eles, tendo reencarnado como um bebê e crescido entre nós várias vezes desde a era mitológica. Sendo sempre seguida por um grupo de jovens vestidos de armaduras representando as constelações, denominados cavaleiros (santos no original), ao longo das eras ela lutou várias vezes pelo bem da humanidade. Na história principal, que se passa nos dias atuais, ao final da Saga de Hades, temos os cavaleiros de Atena lutando contra o deus dos mortos, Hades, que quer destruir a humanidade.

Cavaleiros de bronze ao final da Saga de Hades.

Na última batalha, ao ser ferido pelo cavaleiro de Pégasus, Hades lembra que esse mesmo cavaleiro feriu seu corpo verdadeiro em sua primeira guerra contra Atena, ainda na era mitológica, e era o principal guardião da deusa. É a partir da informação que não apenas Atena reencarna, mas também seu protetor, que começa a história do Lost Canvas, spin-off de Cavaleiros do Zodíaco.

A história do Lost Canvas se passa 250 anos antes dos eventos recentes, no século XVIII, e conta a história da guerra anterior entre Hades e Atena. O fio condutor da história é o jovem Tenma, a princípio um jovem comum que vê sua vida mudar por uma cruel ironia do destino, seus amigos de infância, Alone e Sasha, vem a ser o portador do espírito de Hades e a reencarnação de Atena, enquanto ele se torna o cavaleiro de Pégasus.

Tenma, Sasha e Alone na infância.

Ao contrário da série clássica de CdZ, aqui temos um Hades mais ativo e uma guerra mais longa, o que é problema para um jovem cavaleiro de bronze². Apesar de em tese ser o protagonista da história, Tenma é bastante fraco no começo e em muitos momentos ele não é capaz de fazer muito além de assistir outros lutando, assim a guerra acaba sendo em grande parte um palco para os cavaleiros de ouro².

Tenma, Sasha e Alone na juventude.

Na série clássica Atena se encontra isolada e perseguida pela maioria daqueles que deviam ser seus cavaleiros, podendo contar apenas com a ajuda de cinco cavaleiros de bronze. Porém no Lost Canvas, seu status de deusa é plenamente reconhecido e ela conta com todos os seus protetores. Isso significa que todos os cavaleiros de ouro estão à disposição, logo a responsabilidade da guerra recai principalmente em seus ombros. Embora outras patentes possam lutar e morrer na guerra, elas não importam tanto; os cavaleiros de ouro são os que fazem a maior diferença, eles são armas estratégicas e suas batalhas influenciam diretamente o curso dos eventos. Eles que foram antagonistas na série clássica, aqui lutam por Atena na linha de frente, se sacrificando para que o pior não aconteça. Por falar em sacrifício, esse é um dos pilares do Lost Canvas.

Cavaleiros de Ouro do século XVIII.


Durante a Saga do Santuário, na série clássica, os cavaleiros de bronze de Atena constantemente se sacrificam por seus amigos com o objetivo de fazê-los avançar pelas 12 Casas. De forma invertida, em Lost Canvas, temos os cavaleiros de ouro constantemente se sacrificando. Com cada sacrifício a guerra avança mais um passo. Gosto de dizer que cada volume de Lost Canvas é sobre a morte de um cavaleiro de ouro, eles surgem em um momento de dificuldade, brilham sua luz dourada por um momento e então se apagam para sempre. E lá sempre costuma estar Tenma, aprendendo com eles, formando laços e assistindo suas mortes.
Deixando um pouco a história de lado e falando do estilo, Lost Canvas é uma obra do tipo shounen, porém sua autora, Shiori Teshirogi, começou no shoujo, isso provavelmente fez com que ela gastasse mais tempo na construção de diálogos, relacionamentos entre personagens e desenvolvimento pessoal do que seria esperado de um shounen, o que é um ponto extremamente positivo; o resultado é um balanço agradável de drama e ação. Lost Canvas não é simplesmente uma história de lutas com superpoderes (coisa pela qual seu gênero é famoso), é a história de pessoas que foram arrastadas para dentro de uma guerra e os custos para pôr fim a ela.

Talvez dê para considerar o que foi dito como o bastante para uma introdução, porém sinto que ainda preciso abordar outro ponto, a construção de mundo da obra; esse é outro ponto em que a autora se destaca. Sua  construção de mundo e mitologia são ricos e ela o faz principalmente de duas formas: rimas com o clássico e expansão do universo. Primeiro, em muitos momentos ela rima o Lost Canvas com o CdZ clássico, mostrando personagens parecidos entre ambos, relacionamentos, lugares, nomes e acontecimentos de um jeito que faz você pensar que o destino se repete e a era futura é mais ligada com o passado do que se supunha, por mais que se tente evitar ou mudar, erros se repetem e legados são passados para as futuras gerações. Segundo, ela mostra bastante outros panteões de deuses e grupos sobrenaturais, sobretudo nas histórias Gaiden, histórias extras que se passam antes ou depois dos eventos imediatos do Lost Canvas e tem como protagonistas os cavaleiros de ouro. Essas histórias mostram um mundo vasto e habitado por uma diversidade de indivíduos, nem tudo é sobre Atena, a Terra é mais que isso.

Nos aproximando do fim, se você é fã de CdZ, então precisa conhecer Lost Canvas, mas caso não seja fã, essa é uma boa porta de entrada. Considerem a leitura

Ah! Para os fãs de Cavaleiros do Zodíaco e que não se importam com SPOILERS, vou fazer uma pequena sessão de curiosidades após as notas de rodapé.


Rodapé:
1. Fãs do homem, não me matem por usar a frase sagrada do professor Madureira num texto sobre quadrinhos japoneses.

2. Para os que não estão familiarizados com CdZ, os cavaleiros de Atena são divididos em três grupos de acordo com seu tipo de armadura: bronze, prata e ouro. Os cavaleiros de bronze são os mais fracos, apesar disso podem se mover a uma velocidade de mach 1. Cavaleiros de prata são um estágio intermediário e se movem entre mach 2 e 5. Os cavaleiros de ouro são os mais fortes e é dito que conseguem chegar a se mover na velocidade da luz. É absurdo, mas é fantasia.

Curiosidades:
Aldebaran – Segundo o Lost Canvas, não apenas o Cavaleiro de Touro da geração atual, mas todos os Cavaleiros de Touro adotam esse nome. Aldebaran é o nome da principal estrela da constelação de touro.


Imunidade  a Veneno – Assim como Afrodite de Peixes (segundo Soul of Gold), o Cavaleiro de Peixes de Lost Canvas também é imune a venenos. Isso é necessário para os cavaleiros da última casa, pois vivem próximos do caminho das rosas demoníacas.


Quase acordando – No Lost Canvas vemos vislumbres de Poseidon e somos informados que ele está quase despertando. Fato que se concretiza na série clássica.


Reencarnou – Fica implícito no Lost Canvas que o Espectro de Bennu (pássaro egipcio equivalente a fênix) desejou renascer no futuro ao lado da pessoa mais pura para protegê-la, esses vem a ser Ikki e Shun na série clássica.

Rosário – na série clássica, Shaka de Virgem apresenta um rosário que podia ser usado para prender as almas dos espectros de Hades e impedir que ressuscitassem após serem derrotados. No Lost Canvas aprendemos que o rosário foi criação do Cavaleiro de Virgem dessa era.


Deuses selados – Temos na série clássica os deuses Hypnos e Thanatos libertos por Pandora. Esses deuses vieram a causar problemas aos cavaleiros de Atena na saga de Hades, porém é no Lost Canvas que vemos como eles foram presos e o preço pago para tanto.


Semideus – Descobrimos no Lost Canvas que o Cavaleiro de Pegasus dessa era foi um semideus. Seu pai, Kairos, um deus do tempo e irmão de Chronos, manipulou os acontecimentos a fim de usar o Pegasus como um assassino de deuses.

Sobre o autor:

Este texto foi revisado por Camilla

1 comentário em “LOST CANVAS”

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