Hi, Barbie!

Antes de mais nada quero deixar claro que contém spoilers! Spoilers fortíssimos. 

Então se você não assistiu ao filme, cuidado.

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Nos nossos primeiros anos de vida, quando estes possuíam um dígito apenas, talvez você não se lembre qual foi o seu primeiro brinquedo, mas todos nós nos lembramos daquele que mais marcou a nossa infância. Seja pela cor, pelo o que ele fazia ou representava, mas todos eles cumpriam com o seu objetivo: despertar a nossa imaginação.

Bem, Greta Gerwig nos faz um convite de reviver esse momento de nossas vidas onde tudo era brincadeira e nada de boletos, e nos leva a experienciar tudo isso de uma forma quase mágica, no qual ela não somente dá a vida à boneca mais famosa do mundo mas também a todo o universo que a cerca. Nos leva a relembrar e despertar novamente nossas mentes e imaginações para infinitas possibilidades como éramos quando garotinhas e podíamos fazer ou ser… o que quiséssemos.

De forma ousada e criativa, ela recria todo o mundo da Barbie, a Barbielandia, repleto de cores, detalhes e referências às coleções da própria boneca lançados pela Mattel. Misturando fantasia e realidade em dois mundos distintos porém unidos com perfeição. Além de criticar e nos levar a reflexões acerca de temas antigos e atuais sobre amadurecimento, a posição e papel feminino e masculino na sociedade, laços e relacionamentos e claro, tudo isso bem equilibrado e temperado com bom humor. 

A boneca

E antes de qualquer coisa eu gostaria também de contar um pouquinho da história da nossa bonequinha, que é marcada por reviravoltas desde a sua criação. Basicamente ela foi projetada de uma boneca para adultos chamada Bilt Lilli, originária de cartoons na Alemanha. A boneca então é levada para os Estados Unidos por Ruth Randler. Até então inspirada, ela remodela a boneca e mais tarde com os direitos comprados pela Mattel para a sua fabricação, Barbie passa a ter novas características e acessórios sem perder o principal: representar uma mulher trabalhadora e independente. Dessa forma, ela apresenta não somente um de modelo de boneca visualmente diferente, mas uma alternativa e propósito diferentes, com a intenção de despertar e ampliar a imaginação durante o brincar, que até então antes da década de 60 era limitada e só existiam bonecas bebês para que as meninas pudessem brincar.

Mais um ponto interessante é que, é por causa da Barbie que os produtos começaram a se diversificar a fim de atender todo o público. Ainda na década de 60 a Mattel lançou uma linha de bonecas chamada “Colored Francie”, e se tornou a primeira linha de bonecas pensadas na diversidade. Barbies com estilo de roupas da época e com cabelos que iam do ruivo, castanho escuro e preto, com tons de pele também escuros. Contribuindo para que a boneca se tornasse sinônimo de moda e inovação.

Posteriormente, Barbie então ganha mais que acessórios, mas um mundo inteiro e um estilo de vida onde ela tem tudo, pode escolher qualquer profissão e pode estar em qualquer lugar. E claro, ela também ganhou família e amigos que mais tarde foram contadas em diversas histórias em animações ou durante lançamentos de novos produtos promocionais ou comemorativos. Porém outro fato destacado em sua história, é o foco no padrão de beleza estereotipado da boneca marcado por padrões físicos inatingíveis. Isso fez com que recebesse ao longo dos anos, diversas críticas e até processos por ser um brinquedo com potencial de influência. Quanto ao Ken, esse também é marcado por diversas reviravoltas na história com a boneca ao longo dos anos, existindo algumas versões onde o seu relacionamento é descrito como melhor amigo, outras como o seu namorado e até mesmo como ex-namorado tentando reconquistar o seu coração.

O filme

O filme começa bem divertido e conforme vai caminhando, apesar de manter o tom leve, vão sendo acrescentadas mudanças e críticas junto a comédia e ao drama, e com ele o filme inteiro cresce e amadurece.

No novo filme nos é apresentado dois universos diferentes, feminino (representado pela Barbie e interpretada por Margot Robbie) e masculino (representado pelo Ken e interpretado por Ryan Gosling). Barbie então, vive num mundo de sonhos morando na barbielandia até que começa a sofrer algumas mudanças um pouco… realistas, e para descobrir o que está causando isso ela precisa escolher ir conhecer o mundo real, o nosso mundo e solucionar o problema para que tudo volte ao normal. Ela precisa então a ter que aprender sobre a realidade, onde tudo o que ela acreditava que a sua influência havia mudado para melhor na vida feminina na verdade teve o efeito contrário, e nada parece estar a favor dela, não somente isso, mas ela passa a sentir na pele as dificuldades e lutas do cotidiano feminino, inclusive passando por assédios. 

E quanto ao Ken? Ele traz para a trama o clímax da história, de uma forma cômica e caricata com críticas acerca do patriarcado e sua influência em ambos os mundos, masculino e feminino. Criado para ser o companheiro de Barbie, Ken se encontra de certa forma insatisfeito e frustrado. Ele vive uma relação de dependência da Barbie e anseia o tempo todo ser reconhecido pela boneca. Mas ao tentar ajudá-la e sair para o mundo real ele se depara com uma sociedade que o enxerga e abraça, e acredita ter encontrado enfim sua identidade. O problema? O “vazio” que antes ele tentava preencher com o amor e relacionamento com a Barbie, passa a ser preenchido por si mesmo e tudo o que enaltece a masculinidade. Ele então retorna e transforma o mundo da Barbie no seu, enquanto isso a boneca passa pelo contrário, perdendo seu lar, seu lugar e seus ideais a levando a uma crise existencial.

Apesar do tom sempre sarcástico e um pouco galhofa, o filme não deixa a desejar ao passar a mensagem que ele se compromete. E é no momento em que a Barbie é ajudada a se recompor, que ele faz um dos discursos mais importantes que é trazido à tona pelas duas amigas que a ajudaram no mundo real. Elas lembram o quão difícil é ser mulher no mundo em que vivemos, e que apesar de ainda existir um longo caminho de lutas pela frente, vale a pena lutar. No fim, além de ajudar a boneca e a todas as barbies a ter força e a despertarem, nesse processo as duas, mãe e filha, também se reconciliam.

Um outro ponto marcante neste filme que eu não poderia deixar de citar aqui são as inspirações para compor todo o cenário e a parte musical do filme, que contou com diversos musicais clássicos. Dentre eles All that Jazz – O show deve continuar (1979), Cantando na chuva (1952), Grease (1978), O Show de Truman (1998) e claro Os Embalos de Sábado à Noite (1977) dentre outras grandes produções. E de acordo com as próprias palavras da nossa querida diretora “…é um filme movido pela música, mas não significa que é um musical”, lembrando-nos que apesar de inspirada neles, não é esse o seu gênero e tom, mas dá total poder à música deixando-a guiar o clima do filme do “dançante” e envolvente ao melancólico em perfeito equilíbrio e originalidade.

E quanto a trilha musical hein? Sem deixar a desejar, a parte sonora do longa ainda contou com composições musicais de grandes artistas como Lizzo, Dua lipa, Nick Minaj, Sam Smith, Tame Impala, Khalid, Billie Eilish, FIFTY FIFTY entre outros. Além de, é claro, do filme contar com uma canção original composta por Mark Ronson e Andrew Wyatt e interpretada brilhantemente por Ryan Gosling, tornando-se a tão conhecida: I’m Just Ken.

Aqui apresentei alguns spoilers (se você foi pego desprevenido não diga que não foi avisado), porém espero ter de alguma forma, ao contar um pouco da história da boneca e dos elementos que compuseram o filme, possa ter  te ajudado a conhecer mais desse universo, ou pelo menos te incentivado assistir a essa bela obra-prima caso ainda não tenha visto.

O filme estreou e está em cartaz desde o dia 20 de julho de 2023.

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