TRÊS JOGOS POINT-&-CLICK DISPONÍVEIS NA STEAM PARA VOCÊ CONHECER
Creio que desde que tivemos essa ideia de falar por no mínimo uma hora via áudio na internet, nunca escondi nos episódios que eu sou fissurado por jogos antigos, em especial os de um gênero que ficou famoso no final dos anos 80: adventures point-&-click. A principal razão – e essa mais pessoal – é porque esses jogos estão atrelados a pessoas e momentos que são especiais para mim. A outra, mais técnica (e que na verdade é um pacote de razões), é que são jogos agradáveis. Podem ser visualmente um deslumbre e a trilha sonora raramente decepciona. A mecânica, a partir do momento que você domina um deles, se torna familiar e você já está apto para jogar todos os outros. Ao invés de correr, pular, abaixar, dar tiro na fuça de zumbi ou sair roubando carros por aí, as ações do jogo ficam distribuídas em verbos na tela, como: usar, abrir, fechar, olhar, usar etc. Parece básico, pero no mucho. Em alguns jogos, um erro de ação podia ser fatal, como era o caso dos adventures da Sierra (você ficava preso num beco sem saída, sendo forçado a reiniciar o game DO ZERO).
Então, enquanto não posso fazer review de jogo da nova geração, me resta falar sobre os jogos que meu notebook ainda roda. Por isso, vou indicar três jogos point-&-click da LucasArts disponíveis na STEAM para você conhecer e desbravar o gênero. Quem sabe esse engajamento não traz à tona esses jogos no mercado mais uma vez.
Maniac Mansion
Antes de mais nada, é importante fazer a distinção entre “melhor” e “favorito”, porque nem sempre esses adjetivos andam juntos. Maniac Mansion está em primeiro porque é o meu favorito, mas definitivamente não é o melhor. Na Mansão dos Malucos você controla três personagens: Dave, que é o principal, e mais dois entre os oito disponíveis para escolha. Cada personagem tem sua minibiografia descrita na tela de escolha (e daí presumimos suas personalidades e habilidades) e que podem alterar a gameplay. A história é digna de um filme bem trash de terror dos anos 80: há 20 anos um meteoro caiu nas proximidades de uma mansão, e desde então toda a configuração mental dos residentes foi alterada. Corta para a atualidade onde Dr. Fred, o cientista (e um dos residentes da mansão), rapta uma garota para ser usada como cobaia em seus experimentos. Dave, seu namorado se junta aos amigos para resgatá-la e, como se isso já não fosse uma missão digna o suficiente, talvez livrar a família da influência maligna do meteoro. Sim, lembra muito Resident Evil 7.
O jogo é curto, os quebra-cabeças são desafiadores tanto quanto a tecnologia dos anos 80 os permitia ser e existe mais de um modo de completar o jogo, cada modo alterando como o problema é resolvido. E o humor é ácido. Bem ácido. Um clássico.
The Secret of Monkey Island: Special Edition
Esse, o primeiro de uma das franquias mais famosas do gênero nos anos 90, é um jogo completo. Visualmente o jogo é muito bonito, bem-humorado, com personagens memoráveis e uma história que possui elementos que qualquer um é capaz de amar (chego lá depois). As qualidades certamente poderiam parar por aí. Qualquer um pode ser convencido a jogar qualquer coisa só com isso. Mas The Secret of Monkey Island vai além: é só aqui que você derrota seus amigos em um duelo de insultos. Sim, é isso mesmo. Nesse jogo você duela e vence quem desarmar o inimigo com o melhor insulto. Não faz sentido? Faz, porque é um jogo de piratas.
A história acompanha o jovem chamado Guybrush Threepwood, um aspirante a pirata pronto para provar seu valor como um malandrinho. Por isso, ao chegar em Mêlée Island, ele procura os chefões-piratas da ilha para tentar a sorte com eles. Guybrush então recebe três tarefas que ele precisa realizar para provar que também pode ser um pirata, e esse é só o pontapé inicial da trama. Ao finalizar as tarefas, a ilha é invadida pela tripulação fantasma de um pirata chamado LeChuck, que morreu na Ilha dos Macacos onde atualmente reside. O vilão sequestra a governadora da cidade, crendo que ela é o amor da sua vida. Guy, nosso herói, se vê obrigado a seguir a tripulação até a Ilha dos Macacos e trazer a donzela em segurança de volta. Poderia facilmente ser um filme estrelando Brendan Fraser no papel principal caso fosse feito nos anos 2000.
Em 2009 o jogo recebeu uma nova versão intitulada de Special Edition, com gráficos e sons remasterizados, mas ainda dando a opção de o jogador voltar ao modelo antigo com um simples toque no teclado (e isso é bem legal, porque eu considero o gráfico 16bits parte da experiência). Em setembro de 2022, a franquia recebeu uma nova continuação chamada Return to Monkey Island. O novo jogo está disponível para PC, Xbox X e S, Playstation 5 e Nintendo Switch e tem sido um sucesso entre o público.
Indiana Jones and the Fate of Atlantis
Aproveitando que um novo filme está a caminho, nada mais apropriado que indicar um título da franquia.
Antigamente, quando a indústria dos games não era totalmente independente do cinema e vivia dando soco em ponta de faca apostando nos jogos baseado em filmes, algumas pérolas podiam ser recolhidas, como Homem-Aranha 2 de Playstation 2 e Indiana Jones, mais precisamente o Fate of Atlantis (porque existem vários games do Indiana Jones que são legais, mas não igualmente legais).
Dentre os três indicados, esse, talvez por ser centrado em um personagem que resolve mistérios, é com certeza o mais desafiador. O modo que a história progride também difere de Maniac Mansion e Monkey Island. Enquanto era possível resolver puzzles de maneiras diferentes em Maniac Mansion, aqui em Indiana Jones, ao longo da jornada, o jogador se depara com três caminhos diferentes que alteram a gameplay, os diálogos, as interações e os personagens. Os caminhos são: O Caminho do Juízo (puzzles mais complicados), o Caminho dos Punhos (os puzzles são menos exaustivos, mas existem mais lutas) e o Caminho da Equipe (uma personagem chamada Sophia te acompanha na jornada).
A história de Fate of Atlantis é inédita e foi escrita especialmente para o jogo, e mostra segue o personagem do Harrison Ford contra nazistas mais uma vez. No jogo, um artefato que permite chegar até a cidade lendária de Atlântida é roubado e o arqueólogo precisa recuperá-lo para impedir que os nazis usem a tecnologia da cidade perdida para criar armas capazes de destruir o nosso mundo.
Com uma vasta quantidade de cenários, o jogo possui uma das fotografias mais bonitas no gênero, com florestas, desertos, montanhas, laboratórios secretos e tudo aquilo que estamos acostumados a ver num filme do Indiana Jones. É também cheio de piadinha para você soltar arzinho pelo nariz e erguer o cantinho da boca numa risada contida, porém sincera. Na verdade, todo jogo da LucasArts tem esse dom.
Certamente, muito jogo bom ficou de fora. Há outros que valem a pena você conhecer, como Day of the Tentacle, a continuação de Maniac Mansion (que inclusive é mais famosa que o game original), ou Full Throttle, que recentemente ganhou uma versão remasterizada. A verdade é que existem muitos jogos 2D de point-&-click, não só da LucasArts, apenas esperando para serem descobertos por alguém. Jogos como a trilogia Kyrandia ou a saga King’s Quest, ou até mesmo os mais recentes, como o indie Thimbleweed Park, visualmente inspirado em Maniac Mansion e com uma vibe de Twin Peaks.
Espero que essa humilde lista feita por um fã empolgado possa te incentivar a buscar pelo menos um desses títulos.
Sobre o autor:
Este texto foi escrito por Gabriel Mendes
O maior fã de Homem-Aranha conhecido (ao menos por nós). Especialista nas HQs e a cena punk da música.
Na calada da noite, prefere que o chamem pelo seu nome real: Wilfo.
Seu defeito: defende o terceiro filme do Homem-Aranha do Raimi.