The Last of Us não é uma série de zumbi – Parte 1
Você provavelmente leu essa frase diversas vezes depois do dia 15 de janeiro, quando The Last of Us teve seu primeiro episódio semanal lançado, adaptando o primeiro jogo da franquia de mesmo nome. As comparações eram completamente esperadas e tomaram a internet, advindas de duas perspectivas: de um lado, uma das maiores obras jogáveis do século e um marco no mundo dos jogos, com horas de gameplay focadas em combater os Infectados e uma trama que choca e emociona jogadores até hoje; do outro, uma renomada produtora de séries, filmes e programas de TV trazendo essa história de dentro dos consoles para a frente da câmera, com o melhor que o audiovisual conhece e um elenco poderoso. Na aclamada (mesmo que recente) adaptação, às diversas lutas contra as criaturas infectadas pelo fungo cordyceps deram lugar ao encontro dos universos de Ellie e Joel, com seus traumas, perdas e saudades individuais… e é essa parte que nos interessa no texto de hoje.
Primeiramente, somos apresentados ao drama de Joel. Um empreiteiro nascido e criado no Texas, ao lado de seu irmão Tommy, com seus 36 anos, gosto pelo country e um ar digno de Clint Eastwood em sua juventude. No dia de seu aniversário e depois de tomar café com sua filha Sarah (que conquista nosso coração em poucos segundos de tela), Joel sai para viver o que seria mais um dia de trabalho, sem saber que nesse dia tomariam dele seu maior amor, roubariam seu motivo de viver e separariam sua família tão amada. Um fungo primeiramente descoberto muito longe da pequena cidade de Austin, na Indonésia, não havia recebido a atenção necessária e começava a instaurar no mundo todo o caos, tomando a mente de hospedeiros contaminados e fincando suas raízes na história dos nossos “heróis”. Naquela mesma noite, Joel foge com sua filha e irmão, assustados pelos aviões caindo, prédios em chamas e pessoas atacando umas às outras; até que, nessa corrida desesperada, acontece a perda mais importante nessa história: Joel não foi capaz de proteger sua filha de um soldado com ordens para matar qualquer civil, que aparentasse contaminação ou não, e a doce Sarah morre em seus braços. Naquele dia mais um ano de vida era comemorado, e um coração era enterrado à beira de um rio de sangue e lágrimas.
20 anos se passam dessa tragédia, ainda seguimos Joel, e vemos sua nova vida; agora com 56 anos, ele vive numa Zona de Quarentena sem seu irmão Tommy, mas acompanhado por Tess, sua parceira nos negócios que precisa fazer para sobreviver e tentar preencher o vazio deixado por sua garotinha. Num dia, ajustando contas e tomando todas as medidas necessárias para conseguir um carro e achar seu irmão, Joel descobre uma menina protegida pelos Vagalumes, rebeldes que se opunham ao controle da FEDRA (Agência Federal de Resposta a Desastres) e conhece a oportunidade de trabalho que mudaria sua vida: se levasse a garota até o Capitólio fora da quarentena, teria todos os recursos que precisasse dados a ele. Entre a saída sem serem pegos pelos guardas e o escuro da noite, Joel descobre que a carga petulante e boca-suja se tratava da primeira pessoa imune ao fungo que havia acabado com suas vidas. Assustados e duvidosos eles avançam até o destino, onde então perdemos Tess para o cordyceps, deixando a adolescente cínica e o velho rabugento sozinhos e em direção a alguém que pudesse ajudar. Num mundo onde a morte varre as ruas, os sentimentos acabam parando debaixo do tapete.
Na primeira parada, um conspiracionista com parafusos a menos e um artista que vagava desesperado, que no disparo de uma armadilha acharam refúgio um no outro. Bill e Frank, respectivamente, viveram juntos desde os primeiros dias do apocalipse causado pelo cordyceps, mantidos pelas reservas de Bill e pelo capricho de Frank. Durante 20 anos, enquanto o mundo se acabava em chamas e tudo desmoronava, dentro daquelas grades eles construíram um lar isolado de toda a desgraça, onde até mesmo Joel e Tess acharam amizade e uma comida quentinha. Mas, com o tempo e a velhice, a saúde faltou ao pianista Frank, que acometido de um câncer decidiu encerrar suas últimas pendências e se suicidar, não querendo deixar a dor e a degradação do seu estado físico devastarem o coração de seu companheiro. No fatídico dia, depois de deixar tudo arrumado, eles têm seu último jantar e (sem o conhecimento de Frank) tomam sua última taça de vinho, partindo juntos no silêncio daquela residência pintada com tanta ternura. Os morangos plantados no quintal ficaram sozinhos e agora a morte alcançou aquele oásis. Algum tempo depois, vemos Joel e Ellie se deparando com o incomum paradeiro, mas sem tempo para lidar com o luto, pegando o que precisam para seguir sua viagem. Nesse caminho, o mal existe e ceifa as vidas de quem amamos; nos resta seguir em frente e honrar o que estes fizeram quando estavam aqui.
Em seguida, temos Henry e Sam na cidade de Kansas City, perseguidos em nome da vingança. Henry, o mais velho, negociando para conseguir os remédios que o pequeno Sam precisava, havia traído outro importante insurgente e irmão de Kathleen, a atual e cruel líder dos rebeldes locais, que rondava todo o perímetro buscando acabar com a família que havia dado fim à sua. Em sua fuga, os irmãos encontram Ellie e Joel, se aliando à eles na tentativa fugir da ira de Kathleen e sair da cidade o quanto antes; no entanto, numa cidade cercada, a única opção que surge nos planos é descer até os túneis subterrâneos, onde supostamente os Infectados estavam sendo aprisionados e mantidos longe da população saudável. Com a informação dada por um amigo que se sacrificou pela segurança dos garotos, Henry sabia que o caminho era seguro e é por ele que conseguem escapar. Voltando à superfície, um sniper os avistou e entregou sua posição, fazendo o grupo correr e lutar por suas vidas. Nesse momento, os Infectados esquecidos também emergem, dizimando os rebeldes e contaminando também o jovem Sam, fato que só seria descoberto mais tarde. Num momento de pura tensão, onde Joel tentava proteger Ellie e Henry se negava a acreditar que aquilo estava acontecendo, dois tiros acabaram com outra família que tanto lutou para sobreviver. O nome “apocalipse” nunca foi tão apropriado; por amor, se destruíram até os laços mais fortes, e sangue era derramado pelos do seu próprio sangue. Enquanto Joel começava a ver família onde antes via carga, irmãos viram a morte espreitando seus beliches. As perdas são muitas, e só estamos começando…
Esse foi o review dos primeiros 5 episódios da primeira temporada de The Last of Us. Curtiu? Manda pros amigos que já assistiram e fiquem atentos, porque a parte 2 não demora. Interaja dando seu feedback, nos acompanhe nas redes sociais e, se sentindo perdido no escuro…
Sobre o autor:
Este texto foi escrito por Christian Schettine.
Christian Schettine é estudante de Ciência da Computação e trabalha com Design Gráfico. Apaixonado por Cinema, de Scorsese a Peele, de Brando a Sandler. Formado pela Sessão da Tarde, hoje entusiasta da 7ª Arte.