“Prometeu roubou fogo dos deuses e o deu aos homens.
Por isso ele foi acorrentado à uma pedra e torturado pela eternidade“
No último dia 21 estreou nos cinemas de todo o mundo o aguardado e grandioso “Oppenheimer” dirigido por Christopher Nolan e interpretado pelo melhor que Hollywood pode oferecer. Novamente com uma proposta ousada, o diretor tomou para si a missão de contar a história de J. Robert Oppenheimer, o pai da bomba atômica, e a verdade não conhecida sobre esse gênio da Física que transformou o mundo para sempre, mesmo não tendo sido como imaginou.
Julius Robert Oppenheimer, judeu (sim, o ‘J’ stands for something) nascido em Nova Iorque, no ano de 1904, sempre esteve destinado à grandeza. Com um diploma em Química concedido pela Universidade de Harvard, estudou e se graduou também em Física pela Universidade de Cambridge e obteve em Göttingen, na Alemanha, seu doutorado na área em 1927. Mesmo diante das dificuldades de seu tempo e da opressão que seu povo sofreu, Oppenheimer deixou suas contribuições por todo país da Europa onde a Física Quântica fosse estudada, sempre com o desejo de trazer aquele conhecimento para seu país e com uma postura tão confiante quanto seu potencial o permitia.
Em 1939, de volta aos Estados Unidos e ensinando sobre tudo que havia aprendido, Oppenheimer enfrentou duas difíceis notícias de pesos completamente diferentes: enquanto em Berlim cientistas alemães conseguiam pela primeira vez dividir o átomo de urânio, na Polônia, o Terceiro Reich começava um período de invasões e terror de consequências incalculáveis. Enquanto o medo assolava o planeta, os pesquisadores da energia atômica em todo o mundo temiam o novo feito nuclear e seu potencial nas mãos do exército que agora marchava sobre seus inimigos, qualquer que fosse o custo disso. Em resposta, nos EUA foi fundado o Projeto Manhattan em 1942, que somente no ano seguinte seria dirigido por Oppenheimer e realizado por seus homens de confiança em Los Alamos, numa cidade construída e pensada por ele. O objetivo do projeto? Construir o “artefato” de guerra mais poderoso conhecido até o momento. Com o exército desejando o fim daquela guerra e Oppenheimer, idealista de fortes convicções políticas, almejando acabar com todas as guerras, para sempre.
Depois de 2 anos de pesquisa e da queda dos homens aos quais seria enviado o fogo do céu ao custo de bilhões de dólares, o “sucesso”. 16 de julho de 1945 marcava para sempre o mundo como o dia em que o poder divino da Trinity, a primeira bomba nuclear, fora então revelado aos homens. O Prometeu americano finalmente entregou o fogo dos deuses nas mãos dos homens, para ser punido por Zeus dias depois. O teste bem sucedido alegrava alguns, fazia outros chorarem e deixava a maioria em silêncio. A explosão bem sucedida era o último passo para que o exército americano destinasse esse poder sobre justos e injustos japoneses, que conheceram O Monstro de Oppenheimer e a destruição que ele causava, entre os dias 6 e 9 de agosto do mesmo ano de seu nascimento.
“Agora eu me tornei a Morte, a destruidora de mundos”
Maávabarta, em seu texto Bagavadeguitá
Em “Frankenstein ou o Prometeu Moderno”, clássico escrito por Mary Shelley e lançado em 1818, uma história parecida explica a terrível coincidência entre ficção e realidade. No romance, Victor Frankenstein é um ambicioso cientista que há anos estudava uma forma de criar uma criatura composta de corpos humanos, mas ainda não havia colocado seus planos em prática. Então, como Oppenheimer uniu os melhores membros para o Projeto Manhattan, Victor passou a coletar os melhores membros que podia encontrar pelos cemitérios em que visitou. Com as peças que queria em mãos, obteve então sucesso em sua criação; tamanho sucesso esse, que o próprio não suportou o medo que sentiu ao observá-la e fugiu para se esconder. O Monstro de Frankenstein, agora vivo e solto, aniquilou todos aqueles que também sentiam medo dele e o rejeitavam. A criação do cientista acabou sendo muito pior do que ele podia prever, e sua cegueira causou a morte de seus conterrâneos e até mesmo de sua família.
“Seria o homem de fato ao mesmo tempo tão poderoso, virtuoso e magnífico, e ainda tão vil e baixo? Ora parecia um mero rebento de princípios malignos, ora era como tudo o que pode ser concebido de nobre e divino. Ser um homem grande e virtuoso parecia a maior honra que poderia recair sobre um ser sensível.”
Mary Shelley em “Frankenstein”
Em suas ambições, Victor e Oppenheimer conheceram a destruição que só conseguiram enxergar quando já era tarde. Nem todo o conhecimento dos homens, nem a seleção de seus melhores membros são capazes de vencer a maldade que toma o coração do indivíduo que tem poder em suas mãos. A virtude pode residir na teoria, mas é na prática que se entende o verdadeiro potencial, seja numa besta solta pelas ruas de Genebra, seja numa besta solta no céu de Hiroshima e Nagasaki.
Esse texto é uma análise dos fatos históricos e deixou em segredo diversas outras questões sobre a vida e obra de Oppenheimer, que você poderá conhecer indo à sala de cinema mais próxima ou lendo “O Prometeu Americano”, livro que inspirou Christopher Nolan a pensar e dirigir essa obra-prima. Guiado por atores como Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Florence Pugh e Emily Blunt, você poderá assistir a história que acabo de resumir em detalhes e em perfeição técnica. Com uma trilha sonora inteiramente tocada em violinos e composta por Ludwig Göransson (Mandalorian, Tenet, Wakanda Forever), se permita não somente ler as notas dessa grande produção cinematográfica, mas de fato, ouvir a música.
Sobre o autor:
Este texto foi escrito por Chris Schettine
Este texto foi revisado por Camilla Martins
Christian Schettine é estudante de Ciência da Computação e trabalha com Design Gráfico. Apaixonado por Cinema, de Scorsese a Peele, de Brando a Sandler. Formado pela Sessão da Tarde, hoje entusiasta da 7ª Arte.
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