“Meus próprios olhos não são suficientes para mim, verei por meio dos olhos de outros. A realidade, mesmo vista por meio dos olhos de muitos, não é suficiente. Verei o que outros inventaram. Até mesmo os olhos de toda a humanidade não são o bastante. Lamento que os animais não possam escrever livros. Ficaria contente em saber que face têm as coisas para os olhos de um rato ou de uma abelha.”
Essa é uma colocação de Lewis em um de seus livros, ‘Um Experimento em Crítica Literária’. Embora o foco do escrito de Lewis seja, obviamente, a literatura, também podemos aplicar esse trecho a outros tipos de arte que ultrapassem as letras, e ainda assim não estaremos manchando o significado das palavras de Jack.
Ver o mundo por outros olhos, poder emprestar a sua cosmovisão a outras pessoas, é a mais plena definição da função da arte. Mesmo que, por vezes, não assimilemos ou expressemos as coisas tão claramente, nossas referências, crenças e ética estarão implícitas em nossas obras, revelando quem estamos imitando. Neste texto, tenho o intuito de mostrar para vocês a importância de um homem que revelou a todos como ele via o mundo, e como isso influenciou dois grandes cineastas da nossa era.
Norman Rockwell era um ilustrador do começo do século XX, que alcançou o auge de sua fama enquanto ilustrava capas de revista e jornais. The Saturday Evening Post que o diga, já que ele foi considerado o maior artista a ter trabalhado com eles. Simplificando, o trabalho do Norman se caracteriza pela representação de uma América idílica. A exaltação de trabalhadores comuns, a vida familiar, o cotidiano e a inocência das crianças. Além disso, um teor político e temáticas sociais importantes também estavam presentes em sua obra, por vezes de forma mais subliminar, outras vezes de maneira mais explícita.
Certa vez, o próprio Norman descreveu seu trabalho da seguinte forma: “Mostrei a América que conheci, e a observei para outras pessoas o que elas podem não ter notado.” Isso faz total sentido quando paramos para observar mais detalhadamente as suas obras. Infelizmente não é isso que faremos nesse texto. Temos pouco tempo e um limite de palavras para usar, então deixarei as análises específicas de obras para outro dia. Vamos adiante.
Uma habilidade que Norman dominava era o dom de contar histórias por meio da arte. Um garotinho tomando refri ao lado de um policial não era apenas um garoto. Era um fugitivo. Uma criança lendo era um cavaleiro ouvindo bardos cantarem sobre a épica história de como ele conquistou o coração da donzela. Uma garota se olhando no espelho era uma jovem vivenciando o drama da puberdade.
E essa particularidade de seu trabalho fez com que as obras de Rockwell tivessem uma influência eterna. O que ele realizou não apenas fazia as pessoas suspirarem pela América, mas também as inspirava a trabalhar da mesma maneira que Norman. Com o mesmo esmero, com o desejo de causar o mesmo impacto. Sendo assim, nosso ilustrador ganhou o coração de homens como Steven Spielberg e George Lucas, e os inspirou a fazerem o melhor que podiam.
Certa vez, ao exibir sua coleção de quadros de Norman, Lucas declarou a um correspondente da CBS “Ele era capaz de resumir a história e nos fazer querer ler sobre ela… Entender quem eram as pessoas, quais seus motivos, tudo em um pequeno quadro.” Lucas falava sobre Rockwell com a reverência e o brilho no olhar que um discípulo derrama sobre seu mestre. Quando chegou diante do quadro “Shadow Artist”, disse: “É um artista usando luz e sombra. Foi aqui que a nossa indústria começou.”
Uma curiosidade interessante sobre nosso querido Rockwell é que sua abordagem na criação de ilustrações envolvia bastante o uso de estudos de fotografia (Clique aqui para comprar um material específico sobre Norman e suas fotografias) . Ao contrário de seus contemporâneos, que preferiam ilustrar imagens que fluíam da própria cabeça, Rockwell primeiro fazia o “casting” de modelos ideais para fotografar o que desejava transmitir em cada ilustração. Não só isso, como também estudava planos e ângulos diferentes, para posteriormente, uma vez encontrados, capturar a ‘fotografia perfeita’. Somente após esse processo é que ele a transformava em uma belíssima ilustração.”
Norman amava trabalhar com crianças. Era divertido. Reza a lenda que, para pintar o quadro Girl With a Black Eye, Norman precisou fazer várias brincadeiras no seu estúdio para que a modelo Mary Whelan Leonard, de 9 anos, abrisse o sorriso desejado pelo artista. Dizem que nesse dia, Norman se ajoelhou, bateu no chão e fez todo tipo de travessura para extrair da doce menina um sorriso simpático e muito adequado ao contexto da imagem.
O fato do Norman ser um artista que sabe lidar muito bem com crianças no set o conecta imediatamente a Spielberg, conhecido por inúmeros trabalhos com talentos mirins.
“Admiro o Rockwell, pois é muito difícil fazer com que crianças sejam naturais”.
Não somente no campo prático, mas também na arte, Rockwell servia para encorajar Spielberg e o levava a refletir sobre novos projetos. Por exemplo, sobre um de seus o quadro preferidos “Boy on High Dive”, Steve disse: “Cada vez que estou para fazer um filme, para me comprometer com a direção, esse é o sentimento em meu estômago. Cada filme é como olhar para baixo quando se está em um trampolim de três metros”
Nossos cineastas, quando exibiam sua coleção de artes do Rockwell para a CBS, disseram o seguinte sobre aquele que lhes emprestou os olhos para verem o Norman Rockwell World:
“Ele deixou seu legado, muitos artistas tendem a pintar sem emoção ou qualquer conexão com o público. E Steve e eu somos emocionalistas obstinados e adoramos nos conectar com o público” Lucas.
“Ele tinha um tremendo respeito pelas virtudes da humanidade e havia um verdadeiro senso de união, de família e especialmente de nação.” Spielberg.
Que assim como Norman, nossos trabalhos tenham um sentido perpétuo e inspirador, servindo de modelo para imitação daqueles que virão depois de nós.
Vejamos agora uma série de exemplos de como o Rockwell é referenciado na obras dos cineastas:
Bridge of Spies (Steven Speilberg) vs Triplo self-portrait
The Post (Steven Speilberg) vs Juri Room
Schindler’s List(Steven Speilberg) vs The Problem We All Live With
The Empire of the Sun (Steven Speilberg) vs Freedon for Fear
E aqui fica uma pensata. Já que Spielberg declarou que alguns de seus filmes têm muitos visuais inspirados nas obras de Norman, então pode não ser um exagero tentarmos ver o Indiana Jones como “O Texano” ou “Leyendecker”
Sobre o autor:
Este texto foi escrito por Luxdêi
Luxdêi está “Setting One’s Sights”